O que te diverte me assusta!


O que te diverte me assusta!

Certa vez, eu estava na Biblioteca da escola em que lecionava e um grupo de alunos do 1º ano do Ensino Médio desviou a minha atenção do livro que eu lia. Eles estavam reunidos num cantinho, haviam terminado as provas mais cedo e, certamente, estavam ali para estudar um pouquinho mais, pensei.
 Entretanto, entre cochichos e risinhos, percebi uma euforia diferente entre eles. Resolvi parar de ler para observá-los. Eles estavam passando um celular de mão em mão. O motivo do riso e da diversão estava no aparelho e eu fiquei curiosa, claro.
 Perguntei de que estavam rindo e eles riram mais ainda.
 - Mostra à professora – disse uma menina.
 - Melhor não – respondeu o único garoto do grupo.
 - Besteira, pow! Vou mostrar – decidiu outra garota, já vindo em minha direção.
 - Ó professora, é só um vídeo, uma bobagem, veja que resenha.
 Comecei a ver o vídeo. Uns garotos pulando no mar de uma encosta não muito alta.
 - Ué, qual é a graça? – perguntei.
 - Espera, professora, é o segundo garoto que vai pular – disse a aluna.
 E para o meu total espanto e terror, o segundo garoto, que pulava, batia a cabeça na quina de uma pedra. A próxima cena era ele boiando, morto, e uma poça de sangue ao redor da cabeça. Fechei os olhos imediatamente e pedi que a garota desligasse o aparelho. Mas ela insistiu:
 - Pera, professora, vai perder a melhor cena, os miolos do cara pra fora!
 - Não! Não! Não! Não preciso ver essas imagens, não quero esse tipo de cena na minha memória, sai pra lá com isso!
 Diante do meu desespero, os alunos riram mais ainda.
 Depois de me refazer, disse a eles que aquilo não era diversão e que eu estava assustada não só com o vídeo, mas também com a capacidade de eles se divertirem com uma tragédia daquelas.
 Confesso que não dormi direito à noite, estremecida com o episódio.
 Meu Deus, que geração é essa que acha graça na dor de outrem e que se diverte com cenas reais tão horripilantes, com o que há de pior pra se ver?
 Esses meninos e meninas, quando forem profissionais e estiverem num hospital, por exemplo, tendo o poder de diminuir ou de aumentar o sofrimento de alguém... Pelo que optarão? A dor alheia lhes despertará a compaixão ou o riso?

Lídia Vasconcelos




O que te diverte me assusta!

Certa vez, eu estava na Biblioteca da escola em que lecionava e um grupo de alunos do 1º ano do Ensino Médio desviou a minha atenção do livro que eu lia. Eles estavam reunidos num cantinho, haviam terminado as provas mais cedo e, certamente, estavam ali para estudar um pouquinho mais, pensei.
 Entretanto, entre cochichos e risinhos, percebi uma euforia diferente entre eles. Resolvi parar de ler para observá-los. Eles estavam passando um celular de mão em mão. O motivo do riso e da diversão estava no aparelho e eu fiquei curiosa, claro.
 Perguntei de que estavam rindo e eles riram mais ainda.
 - Mostra à professora – disse uma menina.
 - Melhor não – respondeu o único garoto do grupo.
 - Besteira, pow! Vou mostrar – decidiu outra garota, já vindo em minha direção.
 - Ó professora, é só um vídeo, uma bobagem, veja que resenha.
 Comecei a ver o vídeo. Uns garotos pulando no mar de uma encosta não muito alta.
 - Ué, qual é a graça? – perguntei.
 - Espera, professora, é o segundo garoto que vai pular – disse a aluna.
 E para o meu total espanto e terror, o segundo garoto, que pulava, batia a cabeça na quina de uma pedra. A próxima cena era ele boiando, morto, e uma poça de sangue ao redor da cabeça. Fechei os olhos imediatamente e pedi que a garota desligasse o aparelho. Mas ela insistiu:
 - Pera, professora, vai perder a melhor cena, os miolos do cara pra fora!
 - Não! Não! Não! Não preciso ver essas imagens, não quero esse tipo de cena na minha memória, sai pra lá com isso!
 Diante do meu desespero, os alunos riram mais ainda.
 Depois de me refazer, disse a eles que aquilo não era diversão e que eu estava assustada não só com o vídeo, mas também com a capacidade de eles se divertirem com uma tragédia daquelas.
 Confesso que não dormi direito à noite, estremecida com o episódio.
 Meu Deus, que geração é essa que acha graça na dor de outrem e que se diverte com cenas reais tão horripilantes, com o que há de pior pra se ver?
 Esses meninos e meninas, quando forem profissionais e estiverem num hospital, por exemplo, tendo o poder de diminuir ou de aumentar o sofrimento de alguém... Pelo que optarão? A dor alheia lhes despertará a compaixão ou o riso?

Lídia Vasconcelos