Lê
o texto. O Ouriço estranhou ver ali a Toupeira, ao seu lado, tão
relaxada. – Hoje não tens que fazer? – perguntou. – Tinha muito que
fazer, isso sei, mas não me lembro de quê. A Toupeira levantou-se e deu
duas voltas sem sair do sítio, como se estivesse à procura da toupeira
que ela era antes de lhe ter caído uma pinha na cabeça. – Parece que me
transformei noutra Toupeira – disse ela por fim, muito tristemente. –
Isso passa – disse o Ouriço. – Amanhã transformas-te outra vez em quem
tu és, e és a mesma toupeira da cabeça até aos pés. A Toupeira deu mais
duas voltas sem sair do sítio. Já que não via por ali a toupeira que ela
era antes de apanhar com uma pinha na cabeça, tratou de se orientar. – E
que faço então? – perguntou. – Nada – respondeu o Ouriço. – Só podes
esperar. Um dia, mesmo extraordinário, passa depressa. Essa é que é
essa. E a me-lhor maneira de o passar é a ouriçar de barriga para o ar.
Por sua vez, a Toupeira, pelo sim, pelo não, afastou-se. Já lhe chegava a
falta de memória. O Ouriço continuou a cantar e a coçar a barriga, que
come-çou a fazer barulhos esquisitos. E então ele lembrou-se que ainda
não tinha comido nada. E também se lembrou que havia uma coisa ainda
melhor do que ouriçar de barriga para o ar e que era ouriçar de barriga
para o ar com a barriga cheia. Álvaro Magalhães, A criatura medonha –
Novos contos da mata dos medos, 1.a edição, Texto Editores, 2007
(excerto adaptado, com supressões) Compreensão da leitura 1. Quem estava
ao lado do Ouriço?
Lê
o texto. O Ouriço estranhou ver ali a Toupeira, ao seu lado, tão
relaxada. – Hoje não tens que fazer? – perguntou. – Tinha muito que
fazer, isso sei, mas não me lembro de quê. A Toupeira levantou-se e deu
duas voltas sem sair do sítio, como se estivesse à procura da toupeira
que ela era antes de lhe ter caído uma pinha na cabeça. – Parece que me
transformei noutra Toupeira – disse ela por fim, muito tristemente. –
Isso passa – disse o Ouriço. – Amanhã transformas-te outra vez em quem
tu és, e és a mesma toupeira da cabeça até aos pés. A Toupeira deu mais
duas voltas sem sair do sítio. Já que não via por ali a toupeira que ela
era antes de apanhar com uma pinha na cabeça, tratou de se orientar. – E
que faço então? – perguntou. – Nada – respondeu o Ouriço. – Só podes
esperar. Um dia, mesmo extraordinário, passa depressa. Essa é que é
essa. E a me-lhor maneira de o passar é a ouriçar de barriga para o ar.
Por sua vez, a Toupeira, pelo sim, pelo não, afastou-se. Já lhe chegava a
falta de memória. O Ouriço continuou a cantar e a coçar a barriga, que
come-çou a fazer barulhos esquisitos. E então ele lembrou-se que ainda
não tinha comido nada. E também se lembrou que havia uma coisa ainda
melhor do que ouriçar de barriga para o ar e que era ouriçar de barriga
para o ar com a barriga cheia. Álvaro Magalhães, A criatura medonha –
Novos contos da mata dos medos, 1.a edição, Texto Editores, 2007
(excerto adaptado, com supressões) Compreensão da leitura 1. Quem estava
ao lado do Ouriço?