Bullying: o que você precisa saber para proteger o seu filho

Crianças que sofrem com o problema têm duas vezes mais chances de ter distúrbios de saúde e emocionais quando adultas, diz pesquisa. Entenda mais sobre o assunto.
Depois de passar três anos na mesma escola sem relatar qualquer problema, Vitor, 9 anos, decidiu contar para a mãe que alguns colegas de classe começaram a xingá-lo. A mãe Joana Alves não ficou parada. “Pedi que ele conversasse com a professora. Como não teve nenhum efeito, eu mesma procurei a professora e, depois, a diretora da escola. Ela fez um trabalho com a turma e descobriu que outras crianças passavam pelo mesmo problema”, relata.

No caso de Vitor, o problema se resolveu com uma conversa, mas nem sempre é fácil assim. A agressão continua ocorrendo por anos e anos.

Uma nova pesquisa publicada no jornal Psychological Science, de Washigton DC, nos EUA, mostrou que problemas de saúde, instabilidade nas relações sociais e maior propensão ao vício em substâncias químicas são alguns dos impactos na vida de adultos que sofreram bullying na infância. Por isso, preparamos pontos importantes que toda família precisa saber sobre o problema para evitar que ele aconteça com o filho. Confira abaixo:

Acontece de várias formas
No livro Mentes perigosas nas escolas – Bullying (Ed.Objetiva), a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva divide o bullying em cinco categorias: verbal (insulto, ofensa, xingamento, gozações, apelidos pejorativos), físico e material (bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, roubar, destruir pertences das vítimas ou atirar objetos nas vítimas), psicológico e moral (irritar, humilhar, ridicularizar, ignorar, isolar, discriminar, ameaçar, difamar ou aterrorizar), sexual(abusar, violentar, assediar ou insinuar) evirtual (calúnia, agressão verbal, difamação e gozação na internet).

Não tem idade para ocorrer
Crianças com idade pré-escolar já podem ser vítimas de piadinhas ou algum tipo de comentário maldoso. Porém, o bullying geralmente é mais forte com crianças na faixa dos 12 anos de idade, fase em que o corpo está mudando por causa da puberdade. Além disso, é nessa época que começam as “panelinhas” dentro da sala de aula. Meninos e meninas com um grande grupo de amigos podem se sentir mais poderosos e fortes do que aqueles que não se ‘encaixam’ na turma.
Os pais precisam ficar atentos aos sinais
Além de observar o comportamento da criança em casa, a melhor forma de evitar que qualquer problema mais grave ocorra ou continue acontecendo com o seu filho é ter um diálogo aberto com ele - todos os dias!  É mais fácil perceber os sinais físicos, como hematomas, feridas, dores ou marcas pelo corpo, mas os pais precisam observar com atenção o comportamento psíquico da criança, como explica o psicólogo Lucas Rezende, professor do Instituto de Neurolinguística Aplicada (INAp), do Rio de Janeiro: “Isolamento, exclusão social, constante irritabilidade, agitação e agressividade atípica, medo ou pânico de ir para a escola e até enurese (fazer xixi na cama) são sinais de alerta quando recorrentes”.

Geralmente toma forma nas escolas...
Um levantamento de 2002 realizado pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multidisciplinar de Proteção à Infância e à Adolescência) analisou mais de 6 mil alunos, do 6º ao 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e particulares do Rio de Janeiro. Entre as conclusões, foi possível identificar os locais onde esses atos agressivos ocorrem. A sala de aula ficou em primeiro lugar, seguida pelo pátio do recreio e pelas imediações da escola, durante a chegada e a saída dos alunos.

... mas pode começar dentro de casa
Você deseja que seu filho tire uma nota boa, espera que ele seja bonzinho ou desinibido. Quando ele tem um comportamento que não condiz com suas expectativas, pode vir a frustração e, como resultado, algum tipo de cobrança excessiva. “O entendimento atual sobre o bullying considera que a agressão tem de ser intencional. Mas, na prática, não faz diferença, o efeito continua sendo prejudicial para a criança”, explica Rezende. O problema é que muitas vezes os pais nem percebem que estão expondo a criança. Comentários como “se você comer isso vai ficar gordo!” parecem inofensivos para você, mas seu filho pode se sentir mal.

Envolve uma relação de poder
Como escreve o psicólogo Gustavo Teixeira, especialista em transtornos sociais que afetam as crianças, em seu livro Manual Antibullying: para alunos, pais e professores(Ed.Best Seller), o bullying pressupõe uma relação de poder em que um ou mais alunos tentam subjulgar e dominar outros. O alvo pode ser exposto a vários tipos de agressão, porém, não é capaz de se defender. Pode estar relacionado, por exemplo, ao tipo físico (uma criança mais forte, mais alta ou mais magra do que a outra), à idade (os mais velhos), à raça ou à condição financeira.

Nem tudo é bullying
Seu filho chegou em casa com um arranhão no braço ou um beliscão? Calma! Pode ter sido apenas uma disputa por brinquedo ou, até mesmo, uma brincadeira mais fervorosa. Antes de morrer de preocupação, o melhor é você perguntar ao seu filho o que aconteceu. Respondida à pergunta, fique de olho se o episódio foi um ato isolado ou se ele é recorrente e repetitivo.

Muitas escolas ainda não estão preparadas para lidar com a situação
Isso acontece porque, algumas vezes, a escola não dá ao bullying a dimensão que ele de fato tem, como conta a psicopedagoga Teresa Messeder Andion, da Associação Brasileira de Psicopedagogia: “Há educadores que percebem o problema, mas o tratam como se fosse uma briga de colegas, uma questão de mau comportamento”. O ideal é que todo o plano pedagógico tenha uma realização de campanhas, projetos antibullying. “Ou até mesmo uma atividade em grupo que estimule a união da turma. Peças de teatro, projetos interdisciplinares ou algum trabalho que tenha o próprio bullying como tema pode ser uma ótima ideia”, sugere a especialista.

E se acontecer com o seu filho...
... converse com a escola e com os educadores da criança. Esta é sempre a melhor opção. Também é papel dos pais cobrar das instituições para que haja mais trabalhos de conscientização dos alunos e um acompanhamento mais próximo em sala de aula. A criança precisa se sentir segura dentro do ambiente escolar, até para conseguir expressar seus anseios, medos e necessidades. “Se os pais já identificaram o problema, cobraram uma solução da escola e não houve sucesso, o estabelecimento pode ser denunciado para o Ministério Público por omissão de atitude. Até porque pode ter mais crianças passando pelo mesmo problema em silêncio”, explica Teresa.



Crianças que sofrem com o problema têm duas vezes mais chances de ter distúrbios de saúde e emocionais quando adultas, diz pesquisa. Entenda mais sobre o assunto.
Depois de passar três anos na mesma escola sem relatar qualquer problema, Vitor, 9 anos, decidiu contar para a mãe que alguns colegas de classe começaram a xingá-lo. A mãe Joana Alves não ficou parada. “Pedi que ele conversasse com a professora. Como não teve nenhum efeito, eu mesma procurei a professora e, depois, a diretora da escola. Ela fez um trabalho com a turma e descobriu que outras crianças passavam pelo mesmo problema”, relata.

No caso de Vitor, o problema se resolveu com uma conversa, mas nem sempre é fácil assim. A agressão continua ocorrendo por anos e anos.

Uma nova pesquisa publicada no jornal Psychological Science, de Washigton DC, nos EUA, mostrou que problemas de saúde, instabilidade nas relações sociais e maior propensão ao vício em substâncias químicas são alguns dos impactos na vida de adultos que sofreram bullying na infância. Por isso, preparamos pontos importantes que toda família precisa saber sobre o problema para evitar que ele aconteça com o filho. Confira abaixo:

Acontece de várias formas
No livro Mentes perigosas nas escolas – Bullying (Ed.Objetiva), a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva divide o bullying em cinco categorias: verbal (insulto, ofensa, xingamento, gozações, apelidos pejorativos), físico e material (bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, roubar, destruir pertences das vítimas ou atirar objetos nas vítimas), psicológico e moral (irritar, humilhar, ridicularizar, ignorar, isolar, discriminar, ameaçar, difamar ou aterrorizar), sexual(abusar, violentar, assediar ou insinuar) evirtual (calúnia, agressão verbal, difamação e gozação na internet).

Não tem idade para ocorrer
Crianças com idade pré-escolar já podem ser vítimas de piadinhas ou algum tipo de comentário maldoso. Porém, o bullying geralmente é mais forte com crianças na faixa dos 12 anos de idade, fase em que o corpo está mudando por causa da puberdade. Além disso, é nessa época que começam as “panelinhas” dentro da sala de aula. Meninos e meninas com um grande grupo de amigos podem se sentir mais poderosos e fortes do que aqueles que não se ‘encaixam’ na turma.
Os pais precisam ficar atentos aos sinais
Além de observar o comportamento da criança em casa, a melhor forma de evitar que qualquer problema mais grave ocorra ou continue acontecendo com o seu filho é ter um diálogo aberto com ele - todos os dias!  É mais fácil perceber os sinais físicos, como hematomas, feridas, dores ou marcas pelo corpo, mas os pais precisam observar com atenção o comportamento psíquico da criança, como explica o psicólogo Lucas Rezende, professor do Instituto de Neurolinguística Aplicada (INAp), do Rio de Janeiro: “Isolamento, exclusão social, constante irritabilidade, agitação e agressividade atípica, medo ou pânico de ir para a escola e até enurese (fazer xixi na cama) são sinais de alerta quando recorrentes”.

Geralmente toma forma nas escolas...
Um levantamento de 2002 realizado pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multidisciplinar de Proteção à Infância e à Adolescência) analisou mais de 6 mil alunos, do 6º ao 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e particulares do Rio de Janeiro. Entre as conclusões, foi possível identificar os locais onde esses atos agressivos ocorrem. A sala de aula ficou em primeiro lugar, seguida pelo pátio do recreio e pelas imediações da escola, durante a chegada e a saída dos alunos.

... mas pode começar dentro de casa
Você deseja que seu filho tire uma nota boa, espera que ele seja bonzinho ou desinibido. Quando ele tem um comportamento que não condiz com suas expectativas, pode vir a frustração e, como resultado, algum tipo de cobrança excessiva. “O entendimento atual sobre o bullying considera que a agressão tem de ser intencional. Mas, na prática, não faz diferença, o efeito continua sendo prejudicial para a criança”, explica Rezende. O problema é que muitas vezes os pais nem percebem que estão expondo a criança. Comentários como “se você comer isso vai ficar gordo!” parecem inofensivos para você, mas seu filho pode se sentir mal.

Envolve uma relação de poder
Como escreve o psicólogo Gustavo Teixeira, especialista em transtornos sociais que afetam as crianças, em seu livro Manual Antibullying: para alunos, pais e professores(Ed.Best Seller), o bullying pressupõe uma relação de poder em que um ou mais alunos tentam subjulgar e dominar outros. O alvo pode ser exposto a vários tipos de agressão, porém, não é capaz de se defender. Pode estar relacionado, por exemplo, ao tipo físico (uma criança mais forte, mais alta ou mais magra do que a outra), à idade (os mais velhos), à raça ou à condição financeira.

Nem tudo é bullying
Seu filho chegou em casa com um arranhão no braço ou um beliscão? Calma! Pode ter sido apenas uma disputa por brinquedo ou, até mesmo, uma brincadeira mais fervorosa. Antes de morrer de preocupação, o melhor é você perguntar ao seu filho o que aconteceu. Respondida à pergunta, fique de olho se o episódio foi um ato isolado ou se ele é recorrente e repetitivo.

Muitas escolas ainda não estão preparadas para lidar com a situação
Isso acontece porque, algumas vezes, a escola não dá ao bullying a dimensão que ele de fato tem, como conta a psicopedagoga Teresa Messeder Andion, da Associação Brasileira de Psicopedagogia: “Há educadores que percebem o problema, mas o tratam como se fosse uma briga de colegas, uma questão de mau comportamento”. O ideal é que todo o plano pedagógico tenha uma realização de campanhas, projetos antibullying. “Ou até mesmo uma atividade em grupo que estimule a união da turma. Peças de teatro, projetos interdisciplinares ou algum trabalho que tenha o próprio bullying como tema pode ser uma ótima ideia”, sugere a especialista.

E se acontecer com o seu filho...
... converse com a escola e com os educadores da criança. Esta é sempre a melhor opção. Também é papel dos pais cobrar das instituições para que haja mais trabalhos de conscientização dos alunos e um acompanhamento mais próximo em sala de aula. A criança precisa se sentir segura dentro do ambiente escolar, até para conseguir expressar seus anseios, medos e necessidades. “Se os pais já identificaram o problema, cobraram uma solução da escola e não houve sucesso, o estabelecimento pode ser denunciado para o Ministério Público por omissão de atitude. Até porque pode ter mais crianças passando pelo mesmo problema em silêncio”, explica Teresa.