👍Os 5 pilares de mudança na formação de professores que revolucionou a educação da Finlândia
Os 5 pilares de mudança na formação de professores que revolucionou a educação da Finlândia
Professora em sala de aula finlandesa, em foto de arquivo; país reformou seu ensino e a formação de professores a partir dos anos 1970
O sucesso do sistema educacional da Finlândia tem
sido objeto de estudo em todo o mundo desde que o país, que já foi um
dos mais pobres da Europa, passou a despontar em rankings internacionais
de educação, virou referência por conseguir promover ensino de
qualidade de forma igualitária em toda a sua rede e, em consequência,
viu seu Produto Iinterno Bruto (PIB) per capita se tornar um dos mais
altos do mundo. Na semana passada, a Finlândia foi apontada como o país
com o maior índice de felicidade do mundo, pelo World Happiness Report.
Por trás dessa revolução educacional está uma reforma iniciada nos anos
1970 que teve entre seus pontos centrais a qualificação e a valorização
da carreira dos professores, explica Minna Mäkihonko, conselheira-sênior
para educação docente e para educação inclusiva da Universidade da
Finlândia.
Ela detalhou os cinco princípios-chave que passaram a guiar a formação
de professores finlandeses, na busca por uma educação "que seja baseada
em pesquisas e evidências coletadas em todo o mundo" e que prepare os
docentes para "serem modelos de comportamento para toda a sociedade".
A própria Mäkihonko ressalta que nenhum modelo educacional pode ser
copiado de um país para outro - sobretudo em países tão díspares entre
si quanto a Finlândia, de 5,5 milhões de habitantes, e o Brasil, com 209
milhões de habitantes -, mas a experiência finlandesa serve para
nortear mudanças.
"O que aprendemos é que apenas aumentar a certificação dos professores
não necessariamente impactava a qualidade do aprendizado dos alunos",
explicou ela. "Tivemos de olhar para a qualidade dessa educação, para o
que oferecemos aos professores."
1 - Preparar docentes para um mundo em mutação
Para Mäkihonko, o ponto principal do treinamento de professores passa
por "preparar os futuros professores para um mundo em mutação".
Minna Makihonko em debate em SP; especialista finlandesa busca parcerias para trazer modelo educacional do país ao Brasil
"Não sabemos para que tipo de mundo estamos treinando os professores.
Por isso, é importante treiná-los para não apenas dar informações, mas
ter a capacidade de encontrar, selecionar e analisar conhecimento."
A Finlândia é conhecida por ter adaptado suas salas de aula para o
chamado "ensino baseado em projetos", em que os alunos - em vez de terem
o conhecimento dividido por áreas estáticas, como matemática, línguas e
geografia - aprendem com base em grandes projetos multidisciplinares,
com grande autonomia.
Para Mäkihonko, isso exige professores que aprendam, em sua formação, a
serem flexíveis e capazes de implementar "atividades inteligentes em
situações novas".
Isso reflete uma questão importante da reforma educacional finlandesa:
colocar os alunos como agentes ativos de seu próprio aprendizado.
Um relatório de 2010 da OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico) sobre a educação finlandesa aponta que "as
salas de aula são centradas no aluno".
"O objetivo é aumentar a curiosidade dos estudantes e sua motivação para
aprender, além de promover sua proatividade, autodirecionamento e
criatividade, oferecendo-lhes problemas e desafios interessantes", diz o
texto.
2 - Fundamento científico
Colocar em prática esse ensino centrado no aluno não é fácil e exige
professores que entendam o processo de aprendizado. Por isso, nas
universidades de Educação finlandesas, futuros docentes aprendem "tanto
métodos baseados em pesquisas quanto pacotes de ferramentas que possam
ser usadas quando eles forem ensinar", explicou Mäkihonko.
E também aprendem a usá-las com autonomia. "No treinamento, podemos
dizer a um professor qual livro ou método pode ajudar uma criança com
dificuldade em matemática. Mas é ele, com seu expertise e
profissionalismo, que vai decidir o que usar. Os professores é que terão
de saber quais métodos serão úteis para cada tipo de situação."
Vista de Helsinque, capital da Finlândia; país tem um dos mais altos PIBs per capita e é o 'mais feliz do mundo'
3 - Conhecimento aprofundado
Mäkihonko explicou que é exigido dos professores finlandeses "um
profundo entendimento do conteúdo" que ensinam e da pedagogia adequada
para cada faixa etária, de forma a "apoiar os alunos (na busca) por
diferentes pontos de vista e para construir conexões entre (diferentes)
conceitos".
Desde a reforma educacional dos anos 1970, a formação dos professores
passou a ser centralizada em universidades (todas públicas), em cursos
de cinco anos, com alto nível de exigência sobre os futuros professores.
Todos são obrigados a fazer uma tese de mestrado para concluir sua
formação. Nesse processo, disse Mäkihonko, "eles aprendem a ler artigos
científicos e a estar a par das descobertas mais recentes em
aprendizado, para se desenvolverem profissionalmente".
A OCDE explica que, tradicionalmente no mundo, "programas de treinamento
de professores muitas vezes tratam a boa pedagogia como algo genérico,
presumindo que habilidades (...) são igualmente aplicáveis a todas as
disciplinas. Na Finlândia, como a educação é uma responsabilidade
compartilhada entre a Faculdade de Educação e as faculdades de cada
disciplina, há uma grande atenção à pedagogia específica para
professores primários e professores das séries superiores".
Segundo o relatório da OCDE, outros fatores que parecem estar por trás
do sucesso educacional da Finlândia são um "consenso político para
educar todas as crianças juntas, em um sistema escolar conjunto; a
expectativa de que todas as crianças conseguem atingir altos níveis (de
aprendizado), a despeito de seu histórico familiar ou circunstâncias
regionais; uma busca obstinada pela excelência de professores;
responsabilidade compartilhada da escola pelos alunos com dificuldades;
uso dos modestos recursos financeiros com foco na sala de aula e clima
de confiança entre educadores e a comunidade".
4 - O professor não está sozinho
As exigências sobre os professores são altas, mas eles recebem bastante
apoio - educacional e comunitário - e "não estão sozinhos" no desempenho
de seu papel, afirmou a especialista finlandesa.
Professores finlandeses contam com programa de mentoria que os ajuda em sala de aula
As universidades, disse ela, mantêm uma conexão próxima com os
professores em sala de aula, para ajudá-los a praticar o que aprenderam
durante seu treinamento e a garantir uma mentoria dos que estão
estagiando ou aplicando novas metodologias.
"É importante escutar os professores para entender suas necessidades e
desafios. Por exemplo, quando eles começam a colocar em prática o ensino
baseado em projetos, passam a ter dúvidas e precisam de ajuda, de
mentoria", disse.
"Esses professores-mentores têm uma dupla responsabilidade - de ensinar e
ao mesmo tempo de acompanhar os professores. Estamos buscando parcerias
para implementar isso também no Brasil", afirmou Mäkihonko à BBC News
Brasil.
5 - Ética e papel social
Segundo Mäkihonko, a carreira de professor na Finlândia equivale, em prestígio, às de médico e advogado.
"São profissionais respeitados pela comunidade. Por isso é importante
cuidar das questões éticas quando estamos treinando os professores. Eles
aprendem não apenas técnicas (de ensino) mas também a apoiar o
desenvolvimento pessoal do estudante e a serem modelos de comportamento.
Eles têm muita responsabilidade: a de moldar diamantes brutos. E são
cobrados pela sociedade."
A educadora Beatriz Cardoso, filha de FHC e que participou do debate com
Minna Mäkihonko, opinou que a Finlândia é o país com quem o Brasil mais
tem a aprender em educação, por ter criado um modelo baseado não na
competitividade individual, mas sim na igualdade de acesso. Mas também
destacou que o Brasil tem desafios ainda maiores que a Finlândia teve
nos anos 1970, por sua dimensão continental, problemas históricos de
iletramento e analfabetismo e dificuldades na capacitação de qualidade
aos professores.
Mäkihonko destacou que a Finlândia também "teve muitos desafios e
cometeu erros" durante sua reforma educacional e sugeriu que
profissionais brasileiros da educação que queiram promover mudanças
busquem formar um ambiente propício, engajem um grupo de professores e
apenas "comecem com algo menor e busquem formas de multiplicá-lo".
"Quando eu escrevia minha tese de PhD, meu professor me dizia para não
pensar no problema inteiro logo no começo. Mas sim pensar em peq
👍Os 5 pilares de mudança na formação de professores que revolucionou a educação da Finlândia
Os 5 pilares de mudança na formação de professores que revolucionou a educação da Finlândia
Professora em sala de aula finlandesa, em foto de arquivo; país reformou seu ensino e a formação de professores a partir dos anos 1970
O sucesso do sistema educacional da Finlândia tem
sido objeto de estudo em todo o mundo desde que o país, que já foi um
dos mais pobres da Europa, passou a despontar em rankings internacionais
de educação, virou referência por conseguir promover ensino de
qualidade de forma igualitária em toda a sua rede e, em consequência,
viu seu Produto Iinterno Bruto (PIB) per capita se tornar um dos mais
altos do mundo. Na semana passada, a Finlândia foi apontada como o país
com o maior índice de felicidade do mundo, pelo World Happiness Report.
Por trás dessa revolução educacional está uma reforma iniciada nos anos
1970 que teve entre seus pontos centrais a qualificação e a valorização
da carreira dos professores, explica Minna Mäkihonko, conselheira-sênior
para educação docente e para educação inclusiva da Universidade da
Finlândia.
Ela detalhou os cinco princípios-chave que passaram a guiar a formação
de professores finlandeses, na busca por uma educação "que seja baseada
em pesquisas e evidências coletadas em todo o mundo" e que prepare os
docentes para "serem modelos de comportamento para toda a sociedade".
A própria Mäkihonko ressalta que nenhum modelo educacional pode ser
copiado de um país para outro - sobretudo em países tão díspares entre
si quanto a Finlândia, de 5,5 milhões de habitantes, e o Brasil, com 209
milhões de habitantes -, mas a experiência finlandesa serve para
nortear mudanças.
"O que aprendemos é que apenas aumentar a certificação dos professores
não necessariamente impactava a qualidade do aprendizado dos alunos",
explicou ela. "Tivemos de olhar para a qualidade dessa educação, para o
que oferecemos aos professores."
1 - Preparar docentes para um mundo em mutação
Para Mäkihonko, o ponto principal do treinamento de professores passa
por "preparar os futuros professores para um mundo em mutação".
Minna Makihonko em debate em SP; especialista finlandesa busca parcerias para trazer modelo educacional do país ao Brasil
"Não sabemos para que tipo de mundo estamos treinando os professores.
Por isso, é importante treiná-los para não apenas dar informações, mas
ter a capacidade de encontrar, selecionar e analisar conhecimento."
A Finlândia é conhecida por ter adaptado suas salas de aula para o
chamado "ensino baseado em projetos", em que os alunos - em vez de terem
o conhecimento dividido por áreas estáticas, como matemática, línguas e
geografia - aprendem com base em grandes projetos multidisciplinares,
com grande autonomia.
Para Mäkihonko, isso exige professores que aprendam, em sua formação, a
serem flexíveis e capazes de implementar "atividades inteligentes em
situações novas".
Isso reflete uma questão importante da reforma educacional finlandesa:
colocar os alunos como agentes ativos de seu próprio aprendizado.
Um relatório de 2010 da OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico) sobre a educação finlandesa aponta que "as
salas de aula são centradas no aluno".
"O objetivo é aumentar a curiosidade dos estudantes e sua motivação para
aprender, além de promover sua proatividade, autodirecionamento e
criatividade, oferecendo-lhes problemas e desafios interessantes", diz o
texto.
2 - Fundamento científico
Colocar em prática esse ensino centrado no aluno não é fácil e exige
professores que entendam o processo de aprendizado. Por isso, nas
universidades de Educação finlandesas, futuros docentes aprendem "tanto
métodos baseados em pesquisas quanto pacotes de ferramentas que possam
ser usadas quando eles forem ensinar", explicou Mäkihonko.
E também aprendem a usá-las com autonomia. "No treinamento, podemos
dizer a um professor qual livro ou método pode ajudar uma criança com
dificuldade em matemática. Mas é ele, com seu expertise e
profissionalismo, que vai decidir o que usar. Os professores é que terão
de saber quais métodos serão úteis para cada tipo de situação."
Vista de Helsinque, capital da Finlândia; país tem um dos mais altos PIBs per capita e é o 'mais feliz do mundo'
3 - Conhecimento aprofundado
Mäkihonko explicou que é exigido dos professores finlandeses "um
profundo entendimento do conteúdo" que ensinam e da pedagogia adequada
para cada faixa etária, de forma a "apoiar os alunos (na busca) por
diferentes pontos de vista e para construir conexões entre (diferentes)
conceitos".
Desde a reforma educacional dos anos 1970, a formação dos professores
passou a ser centralizada em universidades (todas públicas), em cursos
de cinco anos, com alto nível de exigência sobre os futuros professores.
Todos são obrigados a fazer uma tese de mestrado para concluir sua
formação. Nesse processo, disse Mäkihonko, "eles aprendem a ler artigos
científicos e a estar a par das descobertas mais recentes em
aprendizado, para se desenvolverem profissionalmente".
A OCDE explica que, tradicionalmente no mundo, "programas de treinamento
de professores muitas vezes tratam a boa pedagogia como algo genérico,
presumindo que habilidades (...) são igualmente aplicáveis a todas as
disciplinas. Na Finlândia, como a educação é uma responsabilidade
compartilhada entre a Faculdade de Educação e as faculdades de cada
disciplina, há uma grande atenção à pedagogia específica para
professores primários e professores das séries superiores".
Segundo o relatório da OCDE, outros fatores que parecem estar por trás
do sucesso educacional da Finlândia são um "consenso político para
educar todas as crianças juntas, em um sistema escolar conjunto; a
expectativa de que todas as crianças conseguem atingir altos níveis (de
aprendizado), a despeito de seu histórico familiar ou circunstâncias
regionais; uma busca obstinada pela excelência de professores;
responsabilidade compartilhada da escola pelos alunos com dificuldades;
uso dos modestos recursos financeiros com foco na sala de aula e clima
de confiança entre educadores e a comunidade".
4 - O professor não está sozinho
As exigências sobre os professores são altas, mas eles recebem bastante
apoio - educacional e comunitário - e "não estão sozinhos" no desempenho
de seu papel, afirmou a especialista finlandesa.
Professores finlandeses contam com programa de mentoria que os ajuda em sala de aula
As universidades, disse ela, mantêm uma conexão próxima com os
professores em sala de aula, para ajudá-los a praticar o que aprenderam
durante seu treinamento e a garantir uma mentoria dos que estão
estagiando ou aplicando novas metodologias.
"É importante escutar os professores para entender suas necessidades e
desafios. Por exemplo, quando eles começam a colocar em prática o ensino
baseado em projetos, passam a ter dúvidas e precisam de ajuda, de
mentoria", disse.
"Esses professores-mentores têm uma dupla responsabilidade - de ensinar e
ao mesmo tempo de acompanhar os professores. Estamos buscando parcerias
para implementar isso também no Brasil", afirmou Mäkihonko à BBC News
Brasil.
5 - Ética e papel social
Segundo Mäkihonko, a carreira de professor na Finlândia equivale, em prestígio, às de médico e advogado.
"São profissionais respeitados pela comunidade. Por isso é importante
cuidar das questões éticas quando estamos treinando os professores. Eles
aprendem não apenas técnicas (de ensino) mas também a apoiar o
desenvolvimento pessoal do estudante e a serem modelos de comportamento.
Eles têm muita responsabilidade: a de moldar diamantes brutos. E são
cobrados pela sociedade."
A educadora Beatriz Cardoso, filha de FHC e que participou do debate com
Minna Mäkihonko, opinou que a Finlândia é o país com quem o Brasil mais
tem a aprender em educação, por ter criado um modelo baseado não na
competitividade individual, mas sim na igualdade de acesso. Mas também
destacou que o Brasil tem desafios ainda maiores que a Finlândia teve
nos anos 1970, por sua dimensão continental, problemas históricos de
iletramento e analfabetismo e dificuldades na capacitação de qualidade
aos professores.
Mäkihonko destacou que a Finlândia também "teve muitos desafios e
cometeu erros" durante sua reforma educacional e sugeriu que
profissionais brasileiros da educação que queiram promover mudanças
busquem formar um ambiente propício, engajem um grupo de professores e
apenas "comecem com algo menor e busquem formas de multiplicá-lo".
"Quando eu escrevia minha tese de PhD, meu professor me dizia para não
pensar no problema inteiro logo no começo. Mas sim pensar em peq
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